quinta-feira, 14 de julho de 2016

QUANDO ELES ESTÃO PREPARADOS E NÓS NÃO



O pequeno catita ia ter a sua primeira festa “deixa-me aqui, podes ir à tua vida e vem buscar-me daqui a 3 horas” com a variante que ele conhecia apenas através de um encontro breve mas muito divertido, a aniversariante.
Chegados à festa ele percebeu que havia uma alteração inesperada no casting, afinal aqueles miúdos não eram os colegas da escola. “Mãe, onde estão os meus amigos?” Ai, que isto não vai correr bem. “Estes são meninos que ainda não conheces mas pode ser uma boa oportunidade para os conheceres. Anda, vamos ver o espaço e logo me dizes se queres ficar aqui ou não. Pode ser?”.

Nestes momentos totalmente novos, o pequeno catita precisa do seu momento azul. Isso, azul.
O método LASEr tem por base quatro cores: vermelho, laranja, azul e verde. A cada uma delas estão associadas necessidades emocionais. O comportamento dos nossos filhos surge para nos mostrar que necessidade ou necessidades emocionais não estão a ser preenchidas. Como eles não conseguem verbalizá-las, expressam-nas pelo comportamento.
Normalmente cada criança tem duas cores dominantes, sendo que em situações específicas as necessidades delas podem ser outras. Temos de estar atentos e receptivos para ler as pistas.
O pequeno catita é dominantemente verde, tem uma grande necessidade de conexão e pertença, e vermelho pois tem uma grande necessidade de reconhecimento e significância. Ou seja, senti que para o ajudar naquele momento teria de manter a nossa conexão “mãe-filho” enquanto o ajudava a criar algum elo emocional com o espaço e lhe dava tempo para se ambientar, reconhecendo e validando o que ele estava a sentir.

O espaço tinha muitas atividades giras, mostrei-lhe algumas salas e brincadeiras e expliquei-lhe com quem tinha de falar em caso de precisar de alguma coisa.
Ele estava quase pronto. Sentia-lhe a vontade de correr e de ir explorar a crescer com o sorriso. Olhando-o nos olhos enquanto segurava na mão dele disse:
- “Vais viver muitas aventuras e aprender coisas novas, quando estiver na hora de cantar os parabéns estou aqui à tua espera”. É importante dar esta sequência de eventos para ele sentir segurança, foi o momento azul (segurança e conforto) que ele precisou para se afastar alegremente de mim e começar a brincar com quem não conhecia voando para longe de mim.
Eu fiquei ali parada, a pensar que não me apetecia sair dali. Não estava preparada mas ele estava. E foi naquele momento que ele cresceu muito e eu também.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

FAZER MENOS PARA SER MAIS


Que brinquedo queres levar para o fim de semana?” – perguntei ao pequeno catita.
“Nada. Quero levar-te a ti”.- respondeu como se fosse completamente óbvio.

Ir sem adereços, não é nada óbvio. Quando vamos, levamos “fazeres” connosco. Uma bola para jogar, umas bolinhas de sabão, um jogo de tabuleiro, umas canetas para fazer um desenho. Um saco de coisas para fazer. Todos os adultos andam com um. Pode não ser visível, mas todos carregamos o nosso saco de fazeres. Quando temos um momento de espera, na paragem do autocarro, no restaurante enquanto a amiga não aparece ou noutro milésimo de segundo de espera, tiramos o saco cá para fora. “Vou mandar este email... deixa-me ver o facebook...organizar as moedas da carteira por ano de emissão...deixa ver o tempo para o fim de semana...”
Raramente somos só nós. Raramente estamos connosco. Raramente somos mas a todo o momento fazemos. Os nossos filhos sentem esta velocidade, eles apanham este ritmo furioso de vida, este aceleramento não sei para aonde. Esta urgência constante.

Nada. É importante os nossos filhos terem momentos de nada para fazer. Nada de nada. Terem a oportunidade única de estarem consigo mesmos. Se estão sempre no fazer, como podem ouvir o silêncio? Se estão sempre no fazer como podem ter a oportunidade de ficarem aborrecidos, entediados e depois descobrirem que a sua imaginação não tem fim e que tudo à sua volta pode ser uma aventura? Se não tiverem quietude como podem ouvir a criatividade? Se não houver um vazio como pode entrar algo novo?

Vamos pais, vamos fazer nada juntos.