quarta-feira, 22 de junho de 2016

GOSTAR DOS MAUS PODE SER BOM


Estás a ver o Peter Pan? Qual é o personagem que gostas mais? Perguntava a Avó Catita.
Gosto de todos. Mas gosto mais do capitão Gancho!
Mas o Capitão Gancho é mau!  Diz a Avó em choque.
Eu gosto dos maus!” (acompanhado de sorrisinho malandreco).

Eu também gosto dos “maus”. Os “maus” balançam as coisas. Arranjam aventuras para os “bons” serem heróis. Ajudam os “bons” a crescer e a ultrapassar as suas limitações. Os “maus” momentos trazem grandes dores de crescimento mas sem elas ficamos para sempre do mesmo tamanho. Às vezes estamos tão prontos para resolver tudo e tornar tudo “bom” para os nossos filhos que os privamos de uma grande prenda, passar por uma situação difícil e aprender com ela. É mesmo difícil assistir e não intervir. Instintivamente só os queremos proteger de tudo e vê-los a sorrir, mas é mesmo importante confiar. Confiar no ser humano que eles são e na sua capacidade de resolver, aprender e crescer. Se eu não deixar o meu filho falhar a entrega de um trabalho como vai ele aprender a responsabilidade? Se ele não se desiludir com um amigo que não era assim tão amigo, como vai aprender a superar uma desilusão?
Nós não vamos estar sempre lá, em cada momento, em cada segundo da vida deles, eles precisam da sua própria caixa de ferramentas, das suas soluções únicas e dos seus pontos de vista especiais. O meu desafio é deixá-lo ter um mau momento e estar presente e disponível se ele precisar de mim. Estar lá num momento mau é bom. Estar ali e confiar enquanto ele cresce com os passos que ele decide dar pelo caminho que ele vai fazendo. É ensiná-lo a aceitar a Vida tal como ela é, com muitas oportunidades e desafios, com muitos Peter Pans e Capitães Gancho.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

PEDIR AJUDA CUSTA MAIS DO QUE LAVAR TONELADAS DE ROUPA




Mini-férias. Muitas malas para lá. (Os maridos nunca percebem porque levamos tantas coisas mas acabam sempre por perguntar “Trouxeste o meu qualquer coisa que gostava de ter trazido e não me lembrei porque demoro 5 minutos a fazer a minha mini mala minimalista?” )
Muitas malas para cá...muita roupa suja para cá.
O meu nível de vulnerabilidade nestes momentos é proporcional à quantidade de roupa suja que invade a minha cozinha. Nesse momento intenso, o pai catita passa por mim sorridente e eu digo num tom pouco sorridente acompanhado de faíscas a sair dos olhos “Está a correr-te bem o dia, não? Não deves ter nada para fazer. ARGHHHHHHH”. Comunicação pouco consciente e um nadinha de violenta que certamente vai despoletar do outro lado uma resposta igualmente “simpática”.

Mas o que estava escondido no meu comentário ácido? Que necessidade em falta é que eu queria comunicar? Talvez um “Estou mesmo cansada e sinto-me um pouco desamparada nesta tarefa hercúlea de lavar a roupa, será que me podes ajudar?” Qual das duas acham que vai ter uma maior cooperação e compreensão do pai catita?

É difícil pedir mesmo o que precisamos. Esperamos e achamos que todos deviam saber o que estamos a pedir sem ter pedido. Sai a esforço. Por cima da necessidade original acumulam-se tantos pensamentos, julgamentos e uma grande carga emocional que perdemos a ligação com a necessidade base não preenchida. Quando a encontramos custa dizer “estou a precisar de ajuda”. Bolas se custa. Mas se eu não sei pedir o que preciso realmente, como posso ensinar o meu filho a fazê-lo? E se nos custa tanto a nós essa vulnerabilidade, imagina o quanto custa ao teu filho dizer mesmo o que ele precisa. Talvez em vez de comentários com humor inglês ele use um comportamento mais desafiante para o comunicar. Talvez ele não tenha outras ferramentas para além do comportamento para comunicar tudo o que vai lá dentro. Toda a turbulência, o desnorteio e a enxurrada de emoções que o deixam assoberbado. Talvez ele só te esteja a dizer à sua maneira “Estou mesmo a precisar de ajuda para arrumar isto tudo cá dentro.”

terça-feira, 7 de junho de 2016

COMO AFOGAR O MULTITASKING


Tenho alguma dificuldade em não fazer nada. Talvez porque o multitasking tornou-se uma modernice esperada de uma mãe trabalhadora e porque nós achamos que conseguimos fazer tudo. É uma espécie de mola interna, POING lá estou eu a saltar para fazer o jantar. POING faço a lista das compras, POING vejo o mail, POING respondo ao pequeno catita e ainda digo ao pai catita POING onde está a camisola cor de laranja. Ufa. Quando estou com os braços enrolados com tanto malabarismo lá me decido pelo unitasking durante uns 5 minutos.

De fora pode parecer um superpoder, por dentro é só uma grande dispersão de energia e atenção. Se estivermos plenamente focados no momento, todo o nosso corpo e cérebro estão ali. É quase uma meditação, uma presença plena, constante e serena. Ali, surge uma confiança no que estamos a fazer e em quem nós somos. Ali, somos apenas o que somos. Sem pensar no que aconteceu antes nem no que vem depois.

Os miúdos dominam esta técnica ancestral e estão sempre prontos a trazer-nos de volta ao momento presente com as ferramentas que mais estão à mão.
19H07, o pequeno catita está no banho. Tenho milhões de coisas para fazer. Já preparada para um enorme e épico multitasking, em vez de um POING levei com um SPLASH na cara. Encharcada como uma esponja do mar e sem pensar, larguei os taskings e dei início ao épico e unitasking BANHO DE FAMÍLIAAAAAAA! SPLASH SPLASH SPLASH SPLASH