terça-feira, 31 de maio de 2016

PINTAR DENTRO DOS CONTORNOS É QUE É NORMAL


Tinha o pequeno catita 4 anos acabadinhos de fazer quando a educadora, cheia de boa vontade, chamou-me à parte com um ar preocupado e disse: “Ele quando desenha nunca faz contornos. E quando lhe pergunto porquê ele diz que o desenho é isto tudo”, apontando para lá da folha de papel. Eu fiquei feliz, ela ficou preocupada.
Pensei que era maravilhoso ele não limitar a sua imaginação e sentir que as coisas vão muito para além dos limites que lhes queremos colocar. Ele estava a descobrir uma visão única e especial do mundo e isso era uma ótima ferramenta para usar pela sua vida fora.

Se pensarmos bem, as grandes descobertas só são feitas quando olhamos para o mesmo problema de um ângulo diferente. Ou quando vemos o problema como um ponto de partida e não um problema. Se olharmos todos da mesma maneira para a mesma coisa, vamos sempre ver o mesmo e a humanidade não evolui.

Muitas das características únicas do teu filho, que hoje não “encaixam” nas tabelas de excel, vão ser as mesmas que o vão tornar um profissional único, com uma visão inovadora e verdadeiramente pioneira.
O miúdo teimoso.. torna-se um adulto que não desiste. A miúda que questiona tudo...torna-se uma cientista quântica. A criança que não faz contornos... torna-se um adulto que não constrói barreiras e percebe que a humanidade, afinal, “é isto tudo”.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

JANTAR COM OS PAIS É CHATO


O meu filho prefere jantar com a Patrulha Pata a jantar comigo.
Eu não salvo o dia, não tenho um camião dos bombeiros nem sou acompanhada por uma banda sonora cada vez que faço qualquer coisa de importante. Mas gostava. Já me estou a imaginar a entrar na zona dos frescos e comprar aquele último ramalhete de espinafres tal super mãe em ação... TANANANAN!


Mas como é que torno a refeição comigo mais catita? Hum?!
É preciso estar 100% presente e ser muito curiosa em relação ao teu filho, só isso. É como num primeiro encontro quando queremos saber tudo, perguntar tudo, descobrir tudo sobre essa pessoa. É esse entusiasmo, essa disponibilidade total.
Sabes uma coisa mesmo importante? O teu filho adora-te e quer sempre um momento de conexão contigo só tens de querer o mesmo.

Olhei para ele aborrecido do outro lado da mesa, levei a colher da sopa junto à boca e disse entusiasmada:
“Boa noite caros telespectadores, estamos aqui hoje para entrevistar um miúdo muito catita. Olá, estás a gostar de estar aqui?”
“Simmmmm!”
“E conta lá, qual foi a coisa mais absolutamente catita que te aconteceu hoje?”
“Eu sei! Eu sei! Jantar com a mãe e o pai!” 
TANANANAN!!!

quarta-feira, 18 de maio de 2016

TIME-OUTS PARA PAIS ENROLADOS


Sabem quando estamos embrenhados numa dinâmica com o nosso filho que cada um puxa para um lado mas o fio tem vários nós e quanto mais puxamos mais difícil fica de desenrolar a situação? Ontem foi assim.
Era tarde, muito tarde e eu tinha tanto sono... e o pequeno catita também. Estávamos os dois exaustos e sem capacidade anímica para sermos tolerantes, pacientes ou fofinhos. Puxávamos teimosamente a nossa ponta do fio, cada vez mais convictos que a minha ponta é que era a certa há uns bons 15 minutos quando decidi fazer um intervalo. Se o teu filho fica em segurança, nestas situações de enrolamento profundo dá-te 5 minutos. Vai lavar a cara, vai comer chocolate preto, respira como se fosses fazer mergulho ou seja lá o que for que faz reset ao teu sistema. O chocolate preto é sempre uma opção catita para mim aliado a três respirações bem profundas.
Posto isto, já com o nível de açúcar recuperado voltei à cena. Consegui com presença, olhar para a situação como um observador e ver que aquilo não nos estava a levar a lado nenhum. Larguei o meu “tenho razão” e disse “Sabes estou mesmo cansada e percebi que quando estou mesmo cansada fico mais irritada e sem paciência, desculpa.”
Ele parou e ficou a olhar para mim. É engraçado quando deixamos de alimentar aquela dinâmica ela perde imediatamente a força.
“Eu também estou cansado, dói-me as pernas por isso não queria vestir o pijama.” Disse o pequeno catita.
“Então e se eu te ajudasse? Depois levo-te ao colo para a cama para não fazeres força nas pernas, achas boa ideia?”
“Tá bemmmmmmm”. Enquanto o levava ao colo para a cama sentia os restantes nós a desenrolarem-se e os seus pequeninos braços a enrolarem-se carinhosamente à volta do meu pescoço.

terça-feira, 10 de maio de 2016

BIRRAS DIGNAS DE OSCAR


Ui. Esses momentos muito desafiantes. Eles atiram-se para o chão e nós só temos vontade de fazer o mesmo. No outro dia estava a pensar nisso e reparei que eu também faço birras, mas birras para dentro. Vá lá, multa dos senhores do parquímetro por 3 minutos de atraso? Birra. Centro comercial na véspera da véspera de Natal? Birra. Receber no meu aniversário uma panela? BIRRA! A diferença é que emocionalmente somos mais maduros e conseguimos lidar com todos aqueles sentimentos que nos invadem no momento (tirando a situação da panela). Uma criança não.
Ao substituir a palavra birra por meltdown temos uma noção mais clara do que realmente se está a passar. O meu filho quando tem uma birra gigantesca está a sentir-se assoberbado pelos sentimentos que o invadem e está a exteriorizar isso em forma de birra. Está em loop emocional. Sabendo isso, em vez de querer “controlar” a birra, quero ajudá-lo. É um momento MIP (momento importante de parentalidade).

Isso é tudo muito giro mas ele está no chão do supermercado venha cá, aos gritos!

Então, o que posso fazer durante o processo meltdown para ajudar o meu filho?
1- Não me vou preocupar com o julgamento dos outros. Primeiro está o meu filho e o que ele está a sentir.
2 - Ter atenção para ele não se magoar nem magoar ninguém. Levá-lo para um sítio mais tranquilo onde consigam estar um com o outro.
3 - Lembrar-me que o comportamento desafiante é sempre um pedido de ajuda.
4 - Reconhecer e aceitar os sentimentos e emoções do meu filho, criando um ambiente seguro para ele os expressar. “Estás aí com sentimentos muito fortes, não é? Estou aqui se precisares de mim.” 
5 - No final, não guardar ressentimentos. A birra não é pessoal, é só uma birra e eu fiz o melhor que podia com as ferramentas que tinha.
Da próxima vez que estiver perante uma birra oiça o pedido de ajuda do seu filho vai ver que muda tudo, para os dois.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O FABULOSO MENINO QUE NUNCA TINHA SONO NOS OLHOS


Miúdo catita, 4 anos tem pilhas duracel depois das 20h30. É só mais uma banana, ou uma compota... não, não, na verdade o que ele tem é sede. Mais um xixi ou dois.. agora caía mesmo bem um copo de leite. Remata com uma demonstração de ginástica, um pequeno verso e tarefas infindáveis porque não tem sono nos olhos. “Ó mamã deita aqui que eu tenho frio nos pés.” Ufa. “Tenho fome na barriga assim não consigo dormir.” Ufa. “ Tenho só de ir fazer ali uma coisa.” Ufa. Ufa.
Muitas vezes adormecemos ao lado dele, depois de longas, muito longas conversas. Tentamos tudo e mais alguma coisa, até que fica demasiado tarde e de manhã o menino tem sono nos olhos e nós também.

Num momento de respiração profunda, os meus pulmões estavam preparados para fazer mergulho em apneia, comecei por tentar perceber quais as são minhas necessidades que não estão a ser preenchidas e que pensamentos/crenças surgem na minha cabeça enquanto o pequeno catita não adormece. Ora bem, vamos lá. Pensamentos é o que eu mais tenho por volta da meia noite.
 ”Tenho tanta coisa para fazer ainda, vou deitar-me tardíssimo. Estou tão cansada.” “Ele já devia estar a dormir, já é tão tarde. Isto faz-lhe mal.” ”Ele está a gozar connosco.” “Quantos anos é que ele tem mesmo??”
Respira Catita.

Primeiro, decidi perceber o que é mais importante a cada momento; Comecei por definir as tarefas que são prioritárias e as que ficam para amanhã, assim fico bastante mais calma e presente e com menos pensamentos na cabeça. Quando fiquei mais tranquila, percebi pouco a pouco que adoro estar com ele um bocadinho antes de ele dormir. É quando conversamos mais e quando descubro sempre alguma coisa nova acerca dele. É um momento “fixe” de grande conexão em que partilhamos o quanto gostamos um do outro. Vá, é um grande momento em que eu fico toda derretida enquanto ele diz repetidamente “mãe és tão fofinha.” Eu sei, é graxa. Mas sabe mesmo bem.

Liguei novamente o detective-mamã e percebi como é importante para ele aquele momento de conexão (por isso é que ele não quer que o momento acabe) (necessidades da criança verde segundo método LASEr). Reparei também como gosta de ser ele a definir algumas das rotinas antes de dormir, ter a possibilidade de escolher que pijama veste ou por que ordem as tarefas são realizadas (necessidades da criança vermelha). Precisa de dizer a última palavra, ou neste caso pedir a última banana para comer.

21h23 depois de ter jantado como um adolescente de 18 anos... 
“- Mãeeeeee, a minha barriga tem fome preciso de comer 3 coisas. Senão não consigo dormir.
- Já percebi que ainda tens fome. Mas só tenho uma banana aqui. Mais nada. Queres agora? Ou comes amanhã de manhã?
- Tá bemmmmmmm”  Depois deste lanchinho final, adormeceu. Sentiu que tinha escolhido a forma como iria adormecer, com a barriga cheiinha e as necessidades preenchidas.

Aos poucos fui percebendo como é importante criar um ritual definido pelos dois, cheio de conexão e reconhecimento para o miúdo catita adormecer feliz e preenchido. É igualmente importante que eu lhe comunique as minhas necessidades e os meus limites através da linguagem pessoal e sem julgamentos. Ou seja, o que eu preciso e sinto.
“- Gostas muito quando a mamã se deita aqui contigo um bocadinho, não é? Eu também. Fazemos sempre muitas aventuras e aproveito para te dar muitos miminhos.
- Sim beijinhos e octonautas também.
- Sabes aquele saquinho que temos e enchemos com beijinhos todos os dias? Quando não estou ao pé de ti, podes sempre ir buscar um beijinho se precisares. A mamã tem de ir tratar de algumas coisas para não se deitar muito tarde. Podíamos encher o saquinho dos beijinhos e enquanto a mamã fazia as suas coisas tinhas aqui os meus beijinhos. O que achas?
- Sim mas temos de encher muiiito muito o saquinho.
- Pois é, vamos dar beijinhos até ficar cheio, quando estiver cheio avisas a mamã, boa?
- Sim!”
CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC!

Todos os dias após uma demonstração de exercícios variados e já de barriga cheia, eu ou o pai ficamos deitados com ele na cama durante 10 minutos (há dias que precisam de mais minutos do que outros e há dias em que nada funciona, normalmente quando ele está demasiado cansado e com o sono em atraso).
Nesse tempo a dois, brincamos aos Octonautas, conversamos ou apenas enchemos o saquinho dos beijinhos. Depois disso, vou tratar de mim e das minhas coisas mas se ele precisar de mim, pode sempre chamar-me. Estou mesmo ali.

É curioso, quando pensamos melhor, reparamos que mesmo nós pais não nos deitamos todos os dias da mesma maneira. Uns dias precisamos de televisão, outros de um bom livro, outros só queremos cair na cama. E quando vamos para a cama sabe mesmo bem adormecer com alguém que gostamos muito, não é?
O meu filho pedir para eu ficar ao pé dele não é chato, é um grande reconhecimento da nossa relação. Ele querer só mais um bocadinho da nossa companhia não é desesperante, é fabuloso.
Sinto-me feliz e até divertida com as desculpas hilariantes que ele inventa e toda a rotina adquiriu uma maior leveza e equilíbrio para os dois.
E foi assim que devagarinho o sono foi aparecendo nos olhos do meu fabuloso menino.

domingo, 1 de maio de 2016

Feliz Dia da Mais do que Mãe


“Mãe,
que verdade linda
o nascer encerra.
Eu nasci de ti,
como a flor da terra.”
Matilde Rosa Araújo

Se uma mãe é terra de onde os filhos nascem e plantam as suas raízes para crescerem pela vida fora, uma mãe tem de ser cuidada, amada, regada e tem de ter o seu espaço e silêncio para a terra manter a sua vivacidade e equilíbrio.
No dia da Mãe, eu penso em tudo o que sou e faço para além da parentalidade que me dá energia, estrutura, calma, espaço, serenidade e abdominais. Os jantares de amigas, as conversas de café, as meditações ao almoço, as aulas de dança, a comida saudável, o estar comigo... o silêncio.

Trato de mim e das minhas necessidades para estar lá para o meu filho, plena e presente e para o inspirar a cuidar primeiro de si e depois do mundo.
Trato de mim, conhecendo-me cada dia melhor, olhando para as minhas partes mais catitas e outras um pouco menos e aceitando-as num convite para o meu filho fazer o mesmo.
Trato de mim com paciência, confiando que há coisas que demoram o seu tempo a florescer e a acontecer e contagiando o meu filho com esse acreditar na Vida.
Mais do que mãe sou terra, às vezes mais lamacenta ou resplendorosa mas sempre aqui por baixo dos teus pézinhos enquanto caminhas pela vida e te tornas cada vez mais Tu.