Quando deixo cair uma coisa e ela parte, posso: 1-
ficar a olhar para o que aconteceu e culpar-me durante horas e contar aos
amigos e culpar-me outra vez; 2 - posso apanhar os cacos (ou tirar uma foto
artística para o instagram); 3 - posso tentar culpar outra pessoa pelo que
aconteceu (pode demorar mas de certeza que consigo encontrar alguém); 4 -
tentar avaliar todas as condicionantes que levaram ao sucedido numa tentativa
vã de controlar o próximo; 5 - posso aceitar que as coisas acontecem porque
acontecem.
PUMBA! CATRAPÁZ! PIMBA! O mealheiro do Capitão Polo Polar
espatifou-se.
Quando o meu filho deixa cair uma coisa e ela parte...
fica a olhar para mim. Parado e de olhar frágil, fica à espera da minha reação para
ter a dele. São apenas alguns segundos em que um dique segura tudo o que vai
dentro dele.
O mealheiro ficou em pedacinhos, aconteceu.
Depois de respirar profundamente umas quantas vezes, tenho
uma excelente oportunidade para ensinar ao meu filho uma consequência natural
que dá sempre jeito: cai, é frágil, parte-se. Tenho uma oportunidade para reconhecer
os sentimentos que ele tem nesse momento ajudando-o a lidar com eles (aumentando
a conexão e fomentando a autoestima) e estou na ocasião certa para deixá-lo encontrar
sozinho uma solução, por exemplo fazer tarefas em casa para comprar um novo.
Importante, mesmo importante, naquele momento é ajudá-lo
a ter jogo de cintura para os reveses da vida. Para quando nos acontecem coisas
menos boas que nos apanham de surpresa e aparecem sei lá de onde, conseguirmos
não responder com ansiedade ou reatividade emocional mas com presença e
aceitação. Aceitá-las como pontos de partida e não destinos fatídicos.
Desde pequenino que lhe digo “os acidentes acontecem na natureza”. Na natureza tudo nasce e cai,
floresce e desaparece. Flui e simplesmente é. Quando repetia a frase ao meu filho, toneladas saíam por magia daqueles
olhos enquanto ele se levantava e tentava novamente. De cada vez a frase fazia
mais sentido e tornava-se mais sua. Dava-lhe força e ajudava-o a levantar-se
sem culpa, sem carrego.
No outro dia parti uma coisa, gostava muito dela
e ainda estava perdida entre o ponto 1 e 4. Ele veio devagar, colocou os braços
à minha volta e disse “Mamã, os acidentes
acontecem na natureza”... e pelo caminho ele aprendeu também o que é a
empatia.