quinta-feira, 14 de julho de 2016

QUANDO ELES ESTÃO PREPARADOS E NÓS NÃO



O pequeno catita ia ter a sua primeira festa “deixa-me aqui, podes ir à tua vida e vem buscar-me daqui a 3 horas” com a variante que ele conhecia apenas através de um encontro breve mas muito divertido, a aniversariante.
Chegados à festa ele percebeu que havia uma alteração inesperada no casting, afinal aqueles miúdos não eram os colegas da escola. “Mãe, onde estão os meus amigos?” Ai, que isto não vai correr bem. “Estes são meninos que ainda não conheces mas pode ser uma boa oportunidade para os conheceres. Anda, vamos ver o espaço e logo me dizes se queres ficar aqui ou não. Pode ser?”.

Nestes momentos totalmente novos, o pequeno catita precisa do seu momento azul. Isso, azul.
O método LASEr tem por base quatro cores: vermelho, laranja, azul e verde. A cada uma delas estão associadas necessidades emocionais. O comportamento dos nossos filhos surge para nos mostrar que necessidade ou necessidades emocionais não estão a ser preenchidas. Como eles não conseguem verbalizá-las, expressam-nas pelo comportamento.
Normalmente cada criança tem duas cores dominantes, sendo que em situações específicas as necessidades delas podem ser outras. Temos de estar atentos e receptivos para ler as pistas.
O pequeno catita é dominantemente verde, tem uma grande necessidade de conexão e pertença, e vermelho pois tem uma grande necessidade de reconhecimento e significância. Ou seja, senti que para o ajudar naquele momento teria de manter a nossa conexão “mãe-filho” enquanto o ajudava a criar algum elo emocional com o espaço e lhe dava tempo para se ambientar, reconhecendo e validando o que ele estava a sentir.

O espaço tinha muitas atividades giras, mostrei-lhe algumas salas e brincadeiras e expliquei-lhe com quem tinha de falar em caso de precisar de alguma coisa.
Ele estava quase pronto. Sentia-lhe a vontade de correr e de ir explorar a crescer com o sorriso. Olhando-o nos olhos enquanto segurava na mão dele disse:
- “Vais viver muitas aventuras e aprender coisas novas, quando estiver na hora de cantar os parabéns estou aqui à tua espera”. É importante dar esta sequência de eventos para ele sentir segurança, foi o momento azul (segurança e conforto) que ele precisou para se afastar alegremente de mim e começar a brincar com quem não conhecia voando para longe de mim.
Eu fiquei ali parada, a pensar que não me apetecia sair dali. Não estava preparada mas ele estava. E foi naquele momento que ele cresceu muito e eu também.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

FAZER MENOS PARA SER MAIS


Que brinquedo queres levar para o fim de semana?” – perguntei ao pequeno catita.
“Nada. Quero levar-te a ti”.- respondeu como se fosse completamente óbvio.

Ir sem adereços, não é nada óbvio. Quando vamos, levamos “fazeres” connosco. Uma bola para jogar, umas bolinhas de sabão, um jogo de tabuleiro, umas canetas para fazer um desenho. Um saco de coisas para fazer. Todos os adultos andam com um. Pode não ser visível, mas todos carregamos o nosso saco de fazeres. Quando temos um momento de espera, na paragem do autocarro, no restaurante enquanto a amiga não aparece ou noutro milésimo de segundo de espera, tiramos o saco cá para fora. “Vou mandar este email... deixa-me ver o facebook...organizar as moedas da carteira por ano de emissão...deixa ver o tempo para o fim de semana...”
Raramente somos só nós. Raramente estamos connosco. Raramente somos mas a todo o momento fazemos. Os nossos filhos sentem esta velocidade, eles apanham este ritmo furioso de vida, este aceleramento não sei para aonde. Esta urgência constante.

Nada. É importante os nossos filhos terem momentos de nada para fazer. Nada de nada. Terem a oportunidade única de estarem consigo mesmos. Se estão sempre no fazer, como podem ouvir o silêncio? Se estão sempre no fazer como podem ter a oportunidade de ficarem aborrecidos, entediados e depois descobrirem que a sua imaginação não tem fim e que tudo à sua volta pode ser uma aventura? Se não tiverem quietude como podem ouvir a criatividade? Se não houver um vazio como pode entrar algo novo?

Vamos pais, vamos fazer nada juntos.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

GOSTAR DOS MAUS PODE SER BOM


Estás a ver o Peter Pan? Qual é o personagem que gostas mais? Perguntava a Avó Catita.
Gosto de todos. Mas gosto mais do capitão Gancho!
Mas o Capitão Gancho é mau!  Diz a Avó em choque.
Eu gosto dos maus!” (acompanhado de sorrisinho malandreco).

Eu também gosto dos “maus”. Os “maus” balançam as coisas. Arranjam aventuras para os “bons” serem heróis. Ajudam os “bons” a crescer e a ultrapassar as suas limitações. Os “maus” momentos trazem grandes dores de crescimento mas sem elas ficamos para sempre do mesmo tamanho. Às vezes estamos tão prontos para resolver tudo e tornar tudo “bom” para os nossos filhos que os privamos de uma grande prenda, passar por uma situação difícil e aprender com ela. É mesmo difícil assistir e não intervir. Instintivamente só os queremos proteger de tudo e vê-los a sorrir, mas é mesmo importante confiar. Confiar no ser humano que eles são e na sua capacidade de resolver, aprender e crescer. Se eu não deixar o meu filho falhar a entrega de um trabalho como vai ele aprender a responsabilidade? Se ele não se desiludir com um amigo que não era assim tão amigo, como vai aprender a superar uma desilusão?
Nós não vamos estar sempre lá, em cada momento, em cada segundo da vida deles, eles precisam da sua própria caixa de ferramentas, das suas soluções únicas e dos seus pontos de vista especiais. O meu desafio é deixá-lo ter um mau momento e estar presente e disponível se ele precisar de mim. Estar lá num momento mau é bom. Estar ali e confiar enquanto ele cresce com os passos que ele decide dar pelo caminho que ele vai fazendo. É ensiná-lo a aceitar a Vida tal como ela é, com muitas oportunidades e desafios, com muitos Peter Pans e Capitães Gancho.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

PEDIR AJUDA CUSTA MAIS DO QUE LAVAR TONELADAS DE ROUPA




Mini-férias. Muitas malas para lá. (Os maridos nunca percebem porque levamos tantas coisas mas acabam sempre por perguntar “Trouxeste o meu qualquer coisa que gostava de ter trazido e não me lembrei porque demoro 5 minutos a fazer a minha mini mala minimalista?” )
Muitas malas para cá...muita roupa suja para cá.
O meu nível de vulnerabilidade nestes momentos é proporcional à quantidade de roupa suja que invade a minha cozinha. Nesse momento intenso, o pai catita passa por mim sorridente e eu digo num tom pouco sorridente acompanhado de faíscas a sair dos olhos “Está a correr-te bem o dia, não? Não deves ter nada para fazer. ARGHHHHHHH”. Comunicação pouco consciente e um nadinha de violenta que certamente vai despoletar do outro lado uma resposta igualmente “simpática”.

Mas o que estava escondido no meu comentário ácido? Que necessidade em falta é que eu queria comunicar? Talvez um “Estou mesmo cansada e sinto-me um pouco desamparada nesta tarefa hercúlea de lavar a roupa, será que me podes ajudar?” Qual das duas acham que vai ter uma maior cooperação e compreensão do pai catita?

É difícil pedir mesmo o que precisamos. Esperamos e achamos que todos deviam saber o que estamos a pedir sem ter pedido. Sai a esforço. Por cima da necessidade original acumulam-se tantos pensamentos, julgamentos e uma grande carga emocional que perdemos a ligação com a necessidade base não preenchida. Quando a encontramos custa dizer “estou a precisar de ajuda”. Bolas se custa. Mas se eu não sei pedir o que preciso realmente, como posso ensinar o meu filho a fazê-lo? E se nos custa tanto a nós essa vulnerabilidade, imagina o quanto custa ao teu filho dizer mesmo o que ele precisa. Talvez em vez de comentários com humor inglês ele use um comportamento mais desafiante para o comunicar. Talvez ele não tenha outras ferramentas para além do comportamento para comunicar tudo o que vai lá dentro. Toda a turbulência, o desnorteio e a enxurrada de emoções que o deixam assoberbado. Talvez ele só te esteja a dizer à sua maneira “Estou mesmo a precisar de ajuda para arrumar isto tudo cá dentro.”

terça-feira, 7 de junho de 2016

COMO AFOGAR O MULTITASKING


Tenho alguma dificuldade em não fazer nada. Talvez porque o multitasking tornou-se uma modernice esperada de uma mãe trabalhadora e porque nós achamos que conseguimos fazer tudo. É uma espécie de mola interna, POING lá estou eu a saltar para fazer o jantar. POING faço a lista das compras, POING vejo o mail, POING respondo ao pequeno catita e ainda digo ao pai catita POING onde está a camisola cor de laranja. Ufa. Quando estou com os braços enrolados com tanto malabarismo lá me decido pelo unitasking durante uns 5 minutos.

De fora pode parecer um superpoder, por dentro é só uma grande dispersão de energia e atenção. Se estivermos plenamente focados no momento, todo o nosso corpo e cérebro estão ali. É quase uma meditação, uma presença plena, constante e serena. Ali, surge uma confiança no que estamos a fazer e em quem nós somos. Ali, somos apenas o que somos. Sem pensar no que aconteceu antes nem no que vem depois.

Os miúdos dominam esta técnica ancestral e estão sempre prontos a trazer-nos de volta ao momento presente com as ferramentas que mais estão à mão.
19H07, o pequeno catita está no banho. Tenho milhões de coisas para fazer. Já preparada para um enorme e épico multitasking, em vez de um POING levei com um SPLASH na cara. Encharcada como uma esponja do mar e sem pensar, larguei os taskings e dei início ao épico e unitasking BANHO DE FAMÍLIAAAAAAA! SPLASH SPLASH SPLASH SPLASH

terça-feira, 31 de maio de 2016

PINTAR DENTRO DOS CONTORNOS É QUE É NORMAL


Tinha o pequeno catita 4 anos acabadinhos de fazer quando a educadora, cheia de boa vontade, chamou-me à parte com um ar preocupado e disse: “Ele quando desenha nunca faz contornos. E quando lhe pergunto porquê ele diz que o desenho é isto tudo”, apontando para lá da folha de papel. Eu fiquei feliz, ela ficou preocupada.
Pensei que era maravilhoso ele não limitar a sua imaginação e sentir que as coisas vão muito para além dos limites que lhes queremos colocar. Ele estava a descobrir uma visão única e especial do mundo e isso era uma ótima ferramenta para usar pela sua vida fora.

Se pensarmos bem, as grandes descobertas só são feitas quando olhamos para o mesmo problema de um ângulo diferente. Ou quando vemos o problema como um ponto de partida e não um problema. Se olharmos todos da mesma maneira para a mesma coisa, vamos sempre ver o mesmo e a humanidade não evolui.

Muitas das características únicas do teu filho, que hoje não “encaixam” nas tabelas de excel, vão ser as mesmas que o vão tornar um profissional único, com uma visão inovadora e verdadeiramente pioneira.
O miúdo teimoso.. torna-se um adulto que não desiste. A miúda que questiona tudo...torna-se uma cientista quântica. A criança que não faz contornos... torna-se um adulto que não constrói barreiras e percebe que a humanidade, afinal, “é isto tudo”.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

JANTAR COM OS PAIS É CHATO


O meu filho prefere jantar com a Patrulha Pata a jantar comigo.
Eu não salvo o dia, não tenho um camião dos bombeiros nem sou acompanhada por uma banda sonora cada vez que faço qualquer coisa de importante. Mas gostava. Já me estou a imaginar a entrar na zona dos frescos e comprar aquele último ramalhete de espinafres tal super mãe em ação... TANANANAN!


Mas como é que torno a refeição comigo mais catita? Hum?!
É preciso estar 100% presente e ser muito curiosa em relação ao teu filho, só isso. É como num primeiro encontro quando queremos saber tudo, perguntar tudo, descobrir tudo sobre essa pessoa. É esse entusiasmo, essa disponibilidade total.
Sabes uma coisa mesmo importante? O teu filho adora-te e quer sempre um momento de conexão contigo só tens de querer o mesmo.

Olhei para ele aborrecido do outro lado da mesa, levei a colher da sopa junto à boca e disse entusiasmada:
“Boa noite caros telespectadores, estamos aqui hoje para entrevistar um miúdo muito catita. Olá, estás a gostar de estar aqui?”
“Simmmmm!”
“E conta lá, qual foi a coisa mais absolutamente catita que te aconteceu hoje?”
“Eu sei! Eu sei! Jantar com a mãe e o pai!” 
TANANANAN!!!

quarta-feira, 18 de maio de 2016

TIME-OUTS PARA PAIS ENROLADOS


Sabem quando estamos embrenhados numa dinâmica com o nosso filho que cada um puxa para um lado mas o fio tem vários nós e quanto mais puxamos mais difícil fica de desenrolar a situação? Ontem foi assim.
Era tarde, muito tarde e eu tinha tanto sono... e o pequeno catita também. Estávamos os dois exaustos e sem capacidade anímica para sermos tolerantes, pacientes ou fofinhos. Puxávamos teimosamente a nossa ponta do fio, cada vez mais convictos que a minha ponta é que era a certa há uns bons 15 minutos quando decidi fazer um intervalo. Se o teu filho fica em segurança, nestas situações de enrolamento profundo dá-te 5 minutos. Vai lavar a cara, vai comer chocolate preto, respira como se fosses fazer mergulho ou seja lá o que for que faz reset ao teu sistema. O chocolate preto é sempre uma opção catita para mim aliado a três respirações bem profundas.
Posto isto, já com o nível de açúcar recuperado voltei à cena. Consegui com presença, olhar para a situação como um observador e ver que aquilo não nos estava a levar a lado nenhum. Larguei o meu “tenho razão” e disse “Sabes estou mesmo cansada e percebi que quando estou mesmo cansada fico mais irritada e sem paciência, desculpa.”
Ele parou e ficou a olhar para mim. É engraçado quando deixamos de alimentar aquela dinâmica ela perde imediatamente a força.
“Eu também estou cansado, dói-me as pernas por isso não queria vestir o pijama.” Disse o pequeno catita.
“Então e se eu te ajudasse? Depois levo-te ao colo para a cama para não fazeres força nas pernas, achas boa ideia?”
“Tá bemmmmmmm”. Enquanto o levava ao colo para a cama sentia os restantes nós a desenrolarem-se e os seus pequeninos braços a enrolarem-se carinhosamente à volta do meu pescoço.

terça-feira, 10 de maio de 2016

BIRRAS DIGNAS DE OSCAR


Ui. Esses momentos muito desafiantes. Eles atiram-se para o chão e nós só temos vontade de fazer o mesmo. No outro dia estava a pensar nisso e reparei que eu também faço birras, mas birras para dentro. Vá lá, multa dos senhores do parquímetro por 3 minutos de atraso? Birra. Centro comercial na véspera da véspera de Natal? Birra. Receber no meu aniversário uma panela? BIRRA! A diferença é que emocionalmente somos mais maduros e conseguimos lidar com todos aqueles sentimentos que nos invadem no momento (tirando a situação da panela). Uma criança não.
Ao substituir a palavra birra por meltdown temos uma noção mais clara do que realmente se está a passar. O meu filho quando tem uma birra gigantesca está a sentir-se assoberbado pelos sentimentos que o invadem e está a exteriorizar isso em forma de birra. Está em loop emocional. Sabendo isso, em vez de querer “controlar” a birra, quero ajudá-lo. É um momento MIP (momento importante de parentalidade).

Isso é tudo muito giro mas ele está no chão do supermercado venha cá, aos gritos!

Então, o que posso fazer durante o processo meltdown para ajudar o meu filho?
1- Não me vou preocupar com o julgamento dos outros. Primeiro está o meu filho e o que ele está a sentir.
2 - Ter atenção para ele não se magoar nem magoar ninguém. Levá-lo para um sítio mais tranquilo onde consigam estar um com o outro.
3 - Lembrar-me que o comportamento desafiante é sempre um pedido de ajuda.
4 - Reconhecer e aceitar os sentimentos e emoções do meu filho, criando um ambiente seguro para ele os expressar. “Estás aí com sentimentos muito fortes, não é? Estou aqui se precisares de mim.” 
5 - No final, não guardar ressentimentos. A birra não é pessoal, é só uma birra e eu fiz o melhor que podia com as ferramentas que tinha.
Da próxima vez que estiver perante uma birra oiça o pedido de ajuda do seu filho vai ver que muda tudo, para os dois.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O FABULOSO MENINO QUE NUNCA TINHA SONO NOS OLHOS


Miúdo catita, 4 anos tem pilhas duracel depois das 20h30. É só mais uma banana, ou uma compota... não, não, na verdade o que ele tem é sede. Mais um xixi ou dois.. agora caía mesmo bem um copo de leite. Remata com uma demonstração de ginástica, um pequeno verso e tarefas infindáveis porque não tem sono nos olhos. “Ó mamã deita aqui que eu tenho frio nos pés.” Ufa. “Tenho fome na barriga assim não consigo dormir.” Ufa. “ Tenho só de ir fazer ali uma coisa.” Ufa. Ufa.
Muitas vezes adormecemos ao lado dele, depois de longas, muito longas conversas. Tentamos tudo e mais alguma coisa, até que fica demasiado tarde e de manhã o menino tem sono nos olhos e nós também.

Num momento de respiração profunda, os meus pulmões estavam preparados para fazer mergulho em apneia, comecei por tentar perceber quais as são minhas necessidades que não estão a ser preenchidas e que pensamentos/crenças surgem na minha cabeça enquanto o pequeno catita não adormece. Ora bem, vamos lá. Pensamentos é o que eu mais tenho por volta da meia noite.
 ”Tenho tanta coisa para fazer ainda, vou deitar-me tardíssimo. Estou tão cansada.” “Ele já devia estar a dormir, já é tão tarde. Isto faz-lhe mal.” ”Ele está a gozar connosco.” “Quantos anos é que ele tem mesmo??”
Respira Catita.

Primeiro, decidi perceber o que é mais importante a cada momento; Comecei por definir as tarefas que são prioritárias e as que ficam para amanhã, assim fico bastante mais calma e presente e com menos pensamentos na cabeça. Quando fiquei mais tranquila, percebi pouco a pouco que adoro estar com ele um bocadinho antes de ele dormir. É quando conversamos mais e quando descubro sempre alguma coisa nova acerca dele. É um momento “fixe” de grande conexão em que partilhamos o quanto gostamos um do outro. Vá, é um grande momento em que eu fico toda derretida enquanto ele diz repetidamente “mãe és tão fofinha.” Eu sei, é graxa. Mas sabe mesmo bem.

Liguei novamente o detective-mamã e percebi como é importante para ele aquele momento de conexão (por isso é que ele não quer que o momento acabe) (necessidades da criança verde segundo método LASEr). Reparei também como gosta de ser ele a definir algumas das rotinas antes de dormir, ter a possibilidade de escolher que pijama veste ou por que ordem as tarefas são realizadas (necessidades da criança vermelha). Precisa de dizer a última palavra, ou neste caso pedir a última banana para comer.

21h23 depois de ter jantado como um adolescente de 18 anos... 
“- Mãeeeeee, a minha barriga tem fome preciso de comer 3 coisas. Senão não consigo dormir.
- Já percebi que ainda tens fome. Mas só tenho uma banana aqui. Mais nada. Queres agora? Ou comes amanhã de manhã?
- Tá bemmmmmmm”  Depois deste lanchinho final, adormeceu. Sentiu que tinha escolhido a forma como iria adormecer, com a barriga cheiinha e as necessidades preenchidas.

Aos poucos fui percebendo como é importante criar um ritual definido pelos dois, cheio de conexão e reconhecimento para o miúdo catita adormecer feliz e preenchido. É igualmente importante que eu lhe comunique as minhas necessidades e os meus limites através da linguagem pessoal e sem julgamentos. Ou seja, o que eu preciso e sinto.
“- Gostas muito quando a mamã se deita aqui contigo um bocadinho, não é? Eu também. Fazemos sempre muitas aventuras e aproveito para te dar muitos miminhos.
- Sim beijinhos e octonautas também.
- Sabes aquele saquinho que temos e enchemos com beijinhos todos os dias? Quando não estou ao pé de ti, podes sempre ir buscar um beijinho se precisares. A mamã tem de ir tratar de algumas coisas para não se deitar muito tarde. Podíamos encher o saquinho dos beijinhos e enquanto a mamã fazia as suas coisas tinhas aqui os meus beijinhos. O que achas?
- Sim mas temos de encher muiiito muito o saquinho.
- Pois é, vamos dar beijinhos até ficar cheio, quando estiver cheio avisas a mamã, boa?
- Sim!”
CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC!

Todos os dias após uma demonstração de exercícios variados e já de barriga cheia, eu ou o pai ficamos deitados com ele na cama durante 10 minutos (há dias que precisam de mais minutos do que outros e há dias em que nada funciona, normalmente quando ele está demasiado cansado e com o sono em atraso).
Nesse tempo a dois, brincamos aos Octonautas, conversamos ou apenas enchemos o saquinho dos beijinhos. Depois disso, vou tratar de mim e das minhas coisas mas se ele precisar de mim, pode sempre chamar-me. Estou mesmo ali.

É curioso, quando pensamos melhor, reparamos que mesmo nós pais não nos deitamos todos os dias da mesma maneira. Uns dias precisamos de televisão, outros de um bom livro, outros só queremos cair na cama. E quando vamos para a cama sabe mesmo bem adormecer com alguém que gostamos muito, não é?
O meu filho pedir para eu ficar ao pé dele não é chato, é um grande reconhecimento da nossa relação. Ele querer só mais um bocadinho da nossa companhia não é desesperante, é fabuloso.
Sinto-me feliz e até divertida com as desculpas hilariantes que ele inventa e toda a rotina adquiriu uma maior leveza e equilíbrio para os dois.
E foi assim que devagarinho o sono foi aparecendo nos olhos do meu fabuloso menino.

domingo, 1 de maio de 2016

Feliz Dia da Mais do que Mãe


“Mãe,
que verdade linda
o nascer encerra.
Eu nasci de ti,
como a flor da terra.”
Matilde Rosa Araújo

Se uma mãe é terra de onde os filhos nascem e plantam as suas raízes para crescerem pela vida fora, uma mãe tem de ser cuidada, amada, regada e tem de ter o seu espaço e silêncio para a terra manter a sua vivacidade e equilíbrio.
No dia da Mãe, eu penso em tudo o que sou e faço para além da parentalidade que me dá energia, estrutura, calma, espaço, serenidade e abdominais. Os jantares de amigas, as conversas de café, as meditações ao almoço, as aulas de dança, a comida saudável, o estar comigo... o silêncio.

Trato de mim e das minhas necessidades para estar lá para o meu filho, plena e presente e para o inspirar a cuidar primeiro de si e depois do mundo.
Trato de mim, conhecendo-me cada dia melhor, olhando para as minhas partes mais catitas e outras um pouco menos e aceitando-as num convite para o meu filho fazer o mesmo.
Trato de mim com paciência, confiando que há coisas que demoram o seu tempo a florescer e a acontecer e contagiando o meu filho com esse acreditar na Vida.
Mais do que mãe sou terra, às vezes mais lamacenta ou resplendorosa mas sempre aqui por baixo dos teus pézinhos enquanto caminhas pela vida e te tornas cada vez mais Tu.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

OS ACIDENTES ACONTECEM NA NATUREZA

Quando deixo cair uma coisa e ela parte, posso: 1- ficar a olhar para o que aconteceu e culpar-me durante horas e contar aos amigos e culpar-me outra vez; 2 - posso apanhar os cacos (ou tirar uma foto artística para o instagram); 3 - posso tentar culpar outra pessoa pelo que aconteceu (pode demorar mas de certeza que consigo encontrar alguém); 4 - tentar avaliar todas as condicionantes que levaram ao sucedido numa tentativa vã de controlar o próximo; 5 - posso aceitar que as coisas acontecem porque acontecem.

PUMBA! CATRAPÁZ! PIMBA! O mealheiro do Capitão Polo Polar espatifou-se.
Quando o meu filho deixa cair uma coisa e ela parte... fica a olhar para mim. Parado e de olhar frágil, fica à espera da minha reação para ter a dele. São apenas alguns segundos em que um dique segura tudo o que vai dentro dele.
O mealheiro ficou em pedacinhos, aconteceu.
Depois de respirar profundamente umas quantas vezes, tenho uma excelente oportunidade para ensinar ao meu filho uma consequência natural que dá sempre jeito: cai, é frágil, parte-se. Tenho uma oportunidade para reconhecer os sentimentos que ele tem nesse momento ajudando-o a lidar com eles (aumentando a conexão e fomentando a autoestima) e estou na ocasião certa para deixá-lo encontrar sozinho uma solução, por exemplo fazer tarefas em casa para comprar um novo.

Importante, mesmo importante, naquele momento é ajudá-lo a ter jogo de cintura para os reveses da vida. Para quando nos acontecem coisas menos boas que nos apanham de surpresa e aparecem sei lá de onde, conseguirmos não responder com ansiedade ou reatividade emocional mas com presença e aceitação. Aceitá-las como pontos de partida e não destinos fatídicos.

Desde pequenino que lhe digo “os acidentes acontecem na natureza”. Na natureza tudo nasce e cai, floresce e desaparece. Flui e simplesmente é. Quando repetia a frase ao meu filho, toneladas saíam por magia daqueles olhos enquanto ele se levantava e tentava novamente. De cada vez a frase fazia mais sentido e tornava-se mais sua. Dava-lhe força e ajudava-o a levantar-se sem culpa, sem carrego.
No outro dia parti uma coisa, gostava muito dela e ainda estava perdida entre o ponto 1 e 4. Ele veio devagar, colocou os braços à minha volta e disse “Mamã, os acidentes acontecem na natureza”... e pelo caminho ele aprendeu também o que é a empatia.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

MAPA DE NAVEGAÇÃO PARA PAIS


Como mãe tenho muitas vezes o momento “e agora o que é que eu faço?”. Surge repentinamente sem avisar e sem deixar muito tempo para pensar sobre o assunto.

Os momentos “e agora o que é que eu faço” surgem quando o nosso filho tem uma birra do tamanho do Pavilhão Atlântico, quando chegamos à cozinha e temos uma instalação moderníssima de farinha e outros ingredientes, biológicos claro, espalhados pelo chão, ou quando simplesmente no dia a dia nos sentimos perdidos.

Na parentalidade consciente, existe uma espécie de mapa que é a nossa base de trabalho enquanto pais e que é definido por cada um: as nossas intenções como pais.
Podemos olhar para as intenções de dois pontos de vista distintos, em relação a nós mesmos (como pais) ou em relação aos nossos filhos, sendo que esta última pode facilmente transformar-se em expectativas.
Porquê intenções e não objectivos? Os objectivos colocam o foco numa meta que pode ser alcançada ou não, a intenção foca no caminho e na aprendizagem, é um processo fluído e constante. Sempre que saímos do caminho podemos voltar a ele relembrando as nossas intenções. É um lembrete do tipo de pais que queremos ser. Se eu sei que tipo de mãe quero ser, consigo definir as minhas ações muito mais facilmente, não só a curto mas a longo prazo. E, em cada momento em vez do “e agora o que é que eu faço?” pergunto “isto está alinhado com as minhas intenções enquanto mãe?”

Mas como é que eu escrevo as minhas intenções? Num momento tranquilo, pegue numa caneta e pense “como gostaria que o meu filho me descrevesse em adulto? Que qualidades, valores e características gostaria de passar ao meu filho? Como gostaria que fosse a nossa relação? Como quero que seja a minha família? Como posso ajudar o meu filho a ser feliz?”
Uma das minhas intenções como mãe é aceitar o meu filho completamente e receber com igual amor os momentos bons e os mais desafiantes.
E aí desse lado, quais são as suas intenções?

quinta-feira, 21 de abril de 2016

OS MENINOS QUE COMEM DEVAGAR VÃO PARA A SALA DOS BEBÉS


Ontem o meu filho chegou a casa a deitar fumo pelas orelhas porque alguém na escola lhe disse “Estás distraído, pareces um bebé!” Ui.
Para mim, se me disserem pareces um bebé, penso logo que os cremes antirrugas funcionam lindamente, que estou com uma pele óptima e com uma aparência fresca e catita. Ou seja, depende do significado e da carga emocional que dou à palavra. Não sei porquê, nos infantários querem tanto que as crianças pequenas façam “coisas de crescidos” que tornaram a palavra “bebé” ofensiva. Representa incapacidade, preguiça, lentidão e inferioridade (o que pode mesmo alterar a forma como uma criança olha para um irmão bebé).
Um bebé é tudo menos isso. É fabuloso! E é assim que os nossos filhos se devem sentir todos os dias, especiais, amados e principalmente aceites.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

AS BRINKADËIRAS NÃO DEVEM TER INSTRUÇÕES DO IKEA


“Quando ensina algo a uma criança, tira-lhe para sempre a possibilidade de o descobrir por si própria” Jean Piaget

Nunca gostei de ler instruções. Ainda hoje quando compro um gadget qualquer uso a técnica “Catita”: carregar em tudo até descobrir como funciona. Aprendo rapidamente, descubro coisas para além das instruções e nunca mais me esqueço. De tempos a tempos apanho com um “antes de iniciar o aparelho ligue-o 2 horas à corrente para não ficar permanentemente danificado”. Ups.

Tirando os brinquedos que podem causar alterações planetárias ou no clima mundial, os brinquedos não devem ter instruções parentais. Devem ser uma descoberta, uma oportunidade de expandir a imaginação. Além de que eles provavelmente percebem muito mais do assunto do que nós. Não há uma maneira certa ou errada de brincar. Um carrinho pode ser um submarino ou uma nave espacial. E pintar dentro dos contornos não devia ser a atividade preferida do Dali. Em vez de os ensinarmos a brincar com as coisas, que tal aprendermos com eles a brincar?