Miúdo catita, 4 anos tem pilhas duracel depois das 20h30.
É só mais uma banana, ou uma compota... não, não, na verdade o que ele tem é
sede. Mais um xixi ou dois.. agora caía mesmo bem um copo de leite. Remata com
uma demonstração de ginástica, um pequeno verso e tarefas infindáveis porque
não tem sono nos olhos. “Ó mamã deita aqui que eu tenho frio nos pés.” Ufa.
“Tenho fome na barriga assim não consigo dormir.” Ufa. “ Tenho só de ir fazer
ali uma coisa.” Ufa. Ufa.
Muitas vezes adormecemos ao lado dele, depois de longas,
muito longas conversas. Tentamos tudo e mais alguma coisa, até que fica
demasiado tarde e de manhã o menino tem sono nos olhos e nós também.
Num momento de respiração profunda, os meus pulmões
estavam preparados para fazer mergulho em apneia, comecei por tentar perceber
quais as são minhas necessidades que não estão a ser preenchidas e que
pensamentos/crenças surgem na minha cabeça enquanto o pequeno catita não
adormece. Ora bem, vamos lá. Pensamentos é o que eu mais tenho por volta da
meia noite.
”Tenho tanta coisa para fazer ainda, vou
deitar-me tardíssimo. Estou tão cansada.” “Ele já devia estar a dormir, já é
tão tarde. Isto faz-lhe mal.” ”Ele está a gozar connosco.” “Quantos anos é que
ele tem mesmo??”
Respira Catita.
Primeiro, decidi perceber o que é mais importante a cada
momento; Comecei por definir as tarefas que são prioritárias e as
que ficam para amanhã, assim fico bastante mais calma e presente e com menos
pensamentos na cabeça. Quando fiquei mais tranquila, percebi pouco a pouco que
adoro estar com ele um bocadinho antes de ele dormir. É quando conversamos mais
e quando descubro sempre alguma coisa nova acerca dele. É um momento “fixe” de
grande conexão em que partilhamos o quanto gostamos um do outro. Vá, é um
grande momento em que eu fico toda derretida enquanto ele diz repetidamente
“mãe és tão fofinha.” Eu sei, é graxa. Mas sabe mesmo bem.
Liguei novamente o detective-mamã e percebi como é
importante para ele aquele momento de conexão (por isso é que ele não quer que
o momento acabe) (necessidades da criança
verde segundo método LASEr). Reparei também como gosta de ser ele a definir
algumas das rotinas antes de dormir, ter a possibilidade de escolher que pijama
veste ou por que ordem as tarefas são realizadas (necessidades da criança vermelha). Precisa de dizer a última
palavra, ou neste caso pedir a última banana para comer.
21h23 depois de ter jantado como um adolescente de 18
anos...
“- Mãeeeeee, a minha barriga tem fome preciso de comer 3
coisas. Senão não consigo dormir.
- Já percebi que ainda tens fome. Mas só tenho uma banana
aqui. Mais nada. Queres agora? Ou comes amanhã de manhã?
- Tá bemmmmmmm”
Depois deste lanchinho final, adormeceu. Sentiu que tinha escolhido a forma
como iria adormecer, com a barriga cheiinha e as necessidades preenchidas.
Aos poucos fui percebendo como é importante criar um
ritual definido pelos dois, cheio de conexão e reconhecimento para o miúdo
catita adormecer feliz e preenchido. É igualmente importante que eu lhe
comunique as minhas necessidades e os meus limites através da linguagem pessoal
e sem julgamentos. Ou seja, o que eu preciso e sinto.
“- Gostas muito quando a mamã se deita aqui contigo um
bocadinho, não é? Eu também. Fazemos sempre muitas aventuras e aproveito para
te dar muitos miminhos.
- Sim beijinhos e octonautas também.
- Sabes aquele saquinho que temos e enchemos com
beijinhos todos os dias? Quando não estou ao pé de ti, podes sempre ir buscar
um beijinho se precisares. A mamã tem de ir tratar de algumas coisas para não
se deitar muito tarde. Podíamos encher o saquinho dos beijinhos e enquanto a
mamã fazia as suas coisas tinhas aqui os meus beijinhos. O que achas?
- Sim mas temos de encher muiiito muito o saquinho.
- Pois é, vamos dar beijinhos até ficar cheio, quando
estiver cheio avisas a mamã, boa?
- Sim!”
CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC CHUAC!
Todos os dias após uma demonstração de exercícios
variados e já de barriga cheia, eu ou o pai ficamos deitados com ele na cama
durante 10 minutos (há dias que precisam de mais minutos do que outros e há
dias em que nada funciona, normalmente quando ele está demasiado cansado e com
o sono em atraso).
Nesse tempo a dois, brincamos aos Octonautas, conversamos
ou apenas enchemos o saquinho dos beijinhos. Depois disso, vou tratar de mim e
das minhas coisas mas se ele precisar de mim, pode sempre chamar-me. Estou
mesmo ali.
É curioso, quando pensamos melhor, reparamos que mesmo nós
pais não nos deitamos todos os dias da mesma maneira. Uns dias precisamos de
televisão, outros de um bom livro, outros só queremos cair na cama. E quando
vamos para a cama sabe mesmo bem adormecer com alguém que gostamos muito, não
é?
O meu filho pedir para eu ficar ao pé dele não é chato, é
um grande reconhecimento da nossa relação. Ele querer só mais um bocadinho da
nossa companhia não é desesperante, é fabuloso.
Sinto-me feliz e até divertida com as desculpas
hilariantes que ele inventa e toda a rotina adquiriu uma maior leveza e equilíbrio para os dois.
E foi assim que devagarinho o sono foi aparecendo nos
olhos do meu fabuloso menino.